incluído em The Plot Begins
Gravura do neo-calcolítico com direção ao sol nascente fotografada por Margarida Mendes nos leitos do rio Tejo, verão de 2021.
A escuta do corpo / Somatic listening é um ciclo de intervenções proposto pela curadora e investigadora Margarida Mendes sobre audição expandida, que toma o espaço da quinta ‘The Plot’ como cenário para uma série de experiências sensoriais em redor da escuta. Explorando os limites da percepção e desafiando a nossa capacidade de imersão no corpo como uma ferramenta aural total, sensível ao contínuo vibracional do mundo, este ciclo de intervenções pensa o lugar político e expressivo da sensorialidade a partir da abertura e cuidado para com os ecossistemas.
Propõe-se descontruir a hierarquia dos sentidos através de um programa que explora o corpo na sua potência reverberativa e mutualista, questionando a relação com o ambiente e com as diferentes formas de vida que habitam o espaço da quinta e do planeta. Este ciclo de fluxos inclui deambulações em escuta, viagens xamânicas a memórias auditivas ancestrais, bem como outras propostas espontâneas e exercícios de escuta na quinta.
Explorando de forma pedagógica a sensibilidade e fruição na escuta do comum, incluem-se propostas artísticas que adereçam o debate sobre a poluição ambiental e o ruído, a audição de animais e plantas, a cura pelo som e consciência corporal, bem como a resiliência dos ecossistemas. De poros abertos, escutamos.
Margarida Mendes é curadora e investigadora. A sua pesquisa – com enfoque no cruzamento das humanidades ambientais, filme experimental e artes sonoras – explora as transformações dinâmicas do ambiente e o seu impacto nas estruturas sociais e no campo da produção cultural. Integrou na equipa curatorial da 11th Gwangju Biennale “The 8th Climate (What Does Art Do?)”, 4th Istanbul Design Biennial “A School of Schools”, e 11th Liverpool Biennale “The Stomach and the Port”. Em 2019, lançou a série de exposições Plant Revolution! (CIAJG, Museo La Tertulia), que questiona o encontro interespécies explorando diferentes narrativas de mediação tecnológica, e em 2016, curou a exposição Matter Fictions, no Museu Berardo, publicando um livro na Sternberg Press. É consultora de ONGs ambientais que trabalham sobre a mineração no mar profundo e dirigiu também diversas plataformas educacionais, como escuelita, uma escola informal do Centro de Arte Dos de Mayo – CA2M, Madrid (2017); O espaço de projectos The Barber Shop em Lisboa dedicado à pesquisa transdisciplinar (2009-16); e a plataforma de pesquisa curatorial sobre ecologia The World In Which We Occur/Matter in Flux (2014-18). Margarida Mendes é doutoranda no Centre for Research Architecture, Visual Cultures Department, Goldsmiths University of London e colabora frequentemente com o canal online de vídeo reportagem Inhabitants-tv.org
22 Agosto - THE PLOT BEGINS!
1º Fluxo: Deambulação em escuta e conversa sobre diferentes formas de audição na natureza
com Diana Policarpo e Margarida Mendes
Item do algário do Museu Marítimo de Ílhavo fotografado por Margarida Mendes no verão de 2020.
Diana Policarpo vive e trabalha entre Lisboa e Londres. Estudou música no Conservatório Nacional de Música de Lisboa, licenciou-se em Artes Plásticas na Escola Superior de Arte e Design (ESAD) e tem um mestrado em Artes Visuais (MFA) pelo Goldsmiths College, da Universidade de Londres. É artista visual e compositora, actualmente a desenvolver a sua actividade artística entre as artes visuais, música electroacústica e a performance multimédia. O seu trabalho investiga cultura popular, saúde, política de género e relações interespécies, justapondo a estruturação rítmica do som como um material tátil dentro da construção social da ideologia esotérica. Exposições individuais e screenings recentes incluem TBA21 (SP), Kunsthall Trondheim (NO), Galeria Municipal Porto (PT), Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (PT), CAV – Centro de Artes Visuais (PT), Nottingham Contemporary (UK), GNRation (PT), Kunsthall Oslo (NO), Galeria Lehmann+ Silva (PT), Kunstverein Leipzig (DE), Galeria Francisco Fino (PT), Kunsthall Baden-Baden (DE), Whitechapel Gallery (UK), Xero, Kline & Coma (UK), Nottingham Contemporary (UK), Institute of Contemporary Arts (UK) e LUX – Moving Image (UK) . Foi vencedora do Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2019.
19 Setembro - THE PLOT THICKENS
2º Fluxo: Mergulho sonoro - ritual conduzido por Mónica Alquimia
Viajando em busca de memórias sonoras ancestrais impressas no corpo, a xamã Mónica Alquimia conduzirá um ritual de meditação sonora que convida os participantes a atravessar a linearidade do espaço-tempo, propondo a reconexão com os habitats primordiais do oceano profundo. Este ritual tem início na respiração, e transportar-nos-á através do transe suportado por instrumentos a outras dimensões sensoriais e imagéticas inscritas nas texturas do corpo orgânico, transgeracional e transpessoal. Esta sessão, desenvolvida a partir de uma conversa com Margarida Mendes, pretende aprofundar os estados de consciência acústica e corporal, acessando a outros modos de percepção, que se expandem através de um subconsciente aquático partilhado.
Esta proposta envolve a abertura à dissolução dos sentidos e é direcionada àqueles que estejam confortáveis a entrar em estados de transe corporal.
Participação limitada a 12 inscrições para aadk.portugal@gmail.com
Mónica Alquimia viajou mundo fora em busca da experiência do sagrado, da transcendência e da genuína aventura em viagens profundas que transformaram a perceção e consciência de si mesma, da vida e da experiência do divino. Atravessou desertos, oceanos e estradas sem fim, viveu em ashrams, participou em rituais e cerimónias, subiu montanhas sagradas, visitou templos e inúmeros lugares de poder. Licenciou-se em Antropologia Social pelo ISCTE especializando-se em Religiões da Ásia, Ritual e Performance. Desde então aprofundou a prática e estudo de várias tradições xamânicas, tendo iniciado o aprendizado em 1995 diretamente com uma mulher medicina na tradição norte-americana e amazónica.
No seu percurso eclético tem integrado saberes antigos e contemporâneos e para isso realizou inúmeras formações e imersões, tendo obtido certificação em Espagiria Alquímica, Constelação Familiar Xamânica, Terapia de Renascimento/Rebirthing, Massagem de Som, Sound Healing, Iniciações Incas, Xamanismo Essencial (FFSS), Experiência Somática, Cura Quântica, Radiestesia e Geobiologia Consciente, Sagrado Feminino e outras. Atualmente frequenta o curso de Especialização Internacional em Psicoterapia Somática em Biossíntese. A Mónica dedica a sua vida a cumprir-se no seu serviço à elevação e transformação da consciência com um enorme amor à Terra. É mãe de 2 filhos e vive no Parque Natural da Arrábida.
20 Novembro - THE PLOT THICKENS
3º Fluxo: O Sopro da Cobra - com Mumtazz e Marta Ângela
O Sopro da Cobra invoca a palavra de Mumtazz e o seu imaginário rítmico e aural numa séance interpretada por Marta Vuduvum.
O panteão de mumtazz, feito de seres incorpóreos e objectos metamorfoseados, subsiste através da persistência da voz que se desdobra em colagens sonoras como Sound Sees Silence Hears, instalada em loop. Compiladas a partir de excertos audio, estas colagens sonoras são densas em recorte e detalhe, completamente agregadas com o seu gravador de k7 caseiro. Nestas, podemos viajar pelo universo plural e denso da spoken word, escutar excertos de filmes, ou de conferências e livros colecionados por Mumtazz, estudante eterna. A textura sónica das mesmas, sincopada e por vezes ruidosa, mas sempre eterizante, completa conspicuamente o humor profético da artista, que se desdobra através do jogo palavra-sentido na sua recombinação enquanto encantamento poético. Aqui, viajamos numa dimensão liminar onde os espiritos e o spectrum se cruzam, co-habitando na banda electromagnética a palavra galvanizada e a dimensão aural da voz de quem se desencarnou mas nunca partiu.
Nesta lua cheia, Marta Vuduvum interpretará em voz O Agitador e a Corrente / Cena e Poema escrito por António Poppe (o Agitador) e Mumtazz (a Corrente) ao longo de mais de uma década de encontros rítmicos, improvisados e sonhados entre estes “dois irmãos siameses”, editado agora pela Mariposa Azul.
Mumtazz viveu em Lisboa, Chicago, Nova Iorque, Evoramonte, Buenos Aires, Marrocos, entre outros sítios 1970 e 2019. Até 2008 trabalhou sob o pseudónimo de Andrea Martha. Completou um Mestrado em Performance and Visual Arts na School of the Art Institute of Chicago,U.S.A. e frequentou o Curso Avançado de Desenho no Ar.Co e o curso de artes do fogo na escola António Arroio, expondo internacionalmente. A raiz do seu trabalho é a poesia, esta encontra formas de expressão no desenho e colagem, cerâmica, escultura, cenografias, fotografia, filme, peças áudio, adereços e figurinos, performance, e na agricultura. As suas peças, embora usando meios tão diversos, partilham de uma qualidade física e erótica, conscientes da sua teatralidade – eterizam-se. Mumtazz utiliza a percepção como um material, assim também como o efémero, o anónimo, e a magia.
Vuduvum Vadavã é Marta-metade de Von Calhau! A sua paixão reside no absurdo, no estado selvagem e primitivo da linguagem, do pré-verbal ao palíndromo e outros jogos de palavra rebuscados. Essa investigação incide sobre a relação dos contrários, que podem ser complementares ou repelentes na sua combinação. Nas artes visuais e invisuais, canto/voz, performance, circuit-bending ou como DJ experimenta o ruído e o silêncio numa deriva conduzida pelo desconhecido.
19 Dezembro - THE PLOT EXPANDS
4º Fluxo: Breath of Fire – Celebração de solstício conduzida por Nazarè Soares (Invisibledrum), Margarida Mendes e Ângelo Surinder (Cosmic Gong)
Breath of Fire honra a conexão com os elementos e ciclos da Terra abrindo um trabalho de reverência através do canto e meditação com gongos, em ressonância com as reverberações secretas da água.
Nesta celebração de solstício conduzida em aliança com Nazarè Soares (Invisibledrum) e Ângelo Surinder (Cosmic Gong) invocaremos a mistura das três águas em agradecimento á chuva que chega para nos nutrir e ao ano de luz que se abre. Num círculo de gestos colectivos apelaremos às frequências que viajam entre os vários planos dos corpos cósmicos, reconectando com a ancestralidade através do canto, da invocação geomântica, do ressoar de gongos e de oferendas ao fogo, buscando a libertação e renovação.
Nazaré Soares é uma artista e curadora que trabalha principalmente com animismo e tecnologias espirituais em contextos de arte contemporânea e novas ecologias. Trabalha em torno de noções de neo-farmacopeias, geomancia, arquiteturas invisíveis e engenharia mágica. A sua prática entrelaça-se com espaços psicoacústicos e cinemáticos, design especulativo e artes performativas, espaços de incubação para rituais e meios de incubação. Ela fundadora da plataforma de arte Invisibledrum com base na Noruega, uma plataforma que investiga inter-relações e inter-conexões dentro da tecnologia, arte, ecologias e sistemas animistas na sociedade contemporânea. Nazaré é curadora de arte e novas ecologias para a Tribute Earth, uma ONG que dá acesso à sabedoria ancestral e a projetos bioculturais regenerativos.
Ângelo Surinder nasceu em Portugal mas viveu durante quatro anos numa comunidade na Galiza, onde sentiu o chamamento à comunhão com a natureza, iniciando o seu percurso no Xamanismo. Quando retornou a sua terra raíz, Portugal, encontrou no yoga uma excelente prática para o equilíbrio entre o corpo, mente e espírito. Começou a praticar yoga Shivananda em 2005 que o impulsionou a aprofundar o conhecimento noutras áreas como o Reiki, Kundalini Yoga segundo ensinamentos de Yogi Bhajan, Massagem de Som na Academia Peter Hess. Mais tarde encontrou no Gongo um instrumento de poder e uma nova forma de ver o conhecimento adquirido, introduzindo o Gongo nas suas práticas como um instrumento Xamânico. Foi com Don Conreaux que se formou em Mestre de Gongo e de Gong Yoga. Aprendeu Ritual Trance Dance com Wilbert Alix e ainda fez formação de cura com sons ancestrais andinos com Tito la Rosa no Peru. Mais tarde enveredou pelo Thetahealing Avançado e Hipnose Clínica, entre outras. É membro da direcção da Associação de Professores de Kundalini Yoga, colabora com o departamento de Oncologia do Hospital de Setúbal para o alívio da dor, com a Cruz Vermelha de Lisboa dando aulas de yoga para séniores e para reclusos da prisão de Lisboa.